A Matemática sempre foi vista
pelos alunos como sendo a disciplina mais difícil do currículo escolar e para
alguns, chega a torna-se um entrave na vida acadêmica. Quando se pensa em
Educação Inclusiva, a situação fica pior, pois se o aluno “normal” em termos de
canais de comunicação (visual, auditivo, etc) já sente esta rejeição, os alunos
com necessidades especiais de comunicação, sofrem as intempéries da falta de
preparo dos profissionais da Educação para tratar deste problema específico.
Apesar dos avanços da Educação no
tocante à Educação Inclusiva, ainda se observa na prática docente da maioria
dos professores de Matemática, certa insegurança para ensinar Matemática e em
especial a geometria a alunos com deficiência visual, porque há necessidade de
utilização de outros recursos metodológicos que não façam da visão a principal
porta de entrada da informação.
O despreparo desses professores
os faz deixar de lado esse conteúdo, abrindo com isso uma grande lacuna no
aprendizado do aluno, trazendo-lhe consequentemente grandes dificuldades
posteriores. Esse despreparo se deve entre outras causas, à formação deficiente
do professor no conteúdo geometria e na abordagem dada pelos livros didáticos
em capítulos finais de livros, obedecendo ao currículo escolar, o que induz os
professores a não abordá-los, com a justificativa de falta de tempo (PAVANELLO,
1993).
No entanto, tais obstáculos não
podem servir de justificativa para o descaso com o ensino deste conteúdo,
necessitando de uma postura crítica dos docentes no sentido da reflexão de suas
práticas com objetivo de enfrentar um novo desafio: a reformulação de sua
própria postura profissional tanto na superação de suas lacunas de formação do
conteúdo, como de suas lacunas no tocante a novas técnicas de abordagem dos
conteúdos geométricos.
Quais as metodologias que podem
favorecer o ensino de Geometria para alunos portadores de deficiência visual
(alunos cegos e de visão reduzida)?
Sobre a situação, Barbosa
discorre que: “Buscar os recursos mais adequados para trabalhar com alunos
portadores de deficiência visual é tarefa que exige do professor enxergar além
da deficiência, lembrando que há peculiaridades no desenvolvimento de todas as
crianças, tendo elas deficiência ou não. A criatividade foi e continua sendo um
elemento indispensável para o homem superar problemas e desafios gerados pelo
seu ambiente físico e social. É encarada como uma construção do indivíduo em
suas interações com as propriedades do objeto. O trabalho voltado para a criatividade
auxilia muito o processo ensino-aprendizagem de Geometria.” (BARBOSA, 2003, p
19).
O presente artigo tem como
objetivo discutir formas de flexibilização do conteúdo de Geometria através de
recursos táteis, em alto relevo e por meio do sistema Braille para facilitar a
entrada desse grupo de alunos no universo matemático. Esse artigo parte de uma
pesquisa ação que desenvolvi com alunos deficientes visuais com quem trabalho e
servirá como possível material de apoio para outros profissionais da educação
inclusiva que pretendem reformular as
suas atuações didático-pedagógica.
O ENSINO DE GEOMETRIA
Para resolver problemas
geométricos não adianta apenas ser conhecedor da álgebra, aritmética e tão
pouco conhecer todas as fórmulas que encontramos nos livros didáticos. Para
resolver questões de Geometria o aluno necessita ter noções espaciais que
permitam interpretar as imagens.
Se para o aluno que vê a falta de
um ensino sistemático de Geometria constitui-se uma perda significativa, muito
mais para o aluno de visão reduzida ou para o aluno cego, pois eles necessitam
de materiais adequados às suas especificidades, materiais estes não disponíveis
na sala de aula comum. Então, como ensinar Geometria de forma a proporcionar
aos alunos cegos ou de baixa visão, a percepção e poder de interpretação das
imagens geométricas?
Esses alunos necessitam vivenciar
todo o universo que os cerca, pois as formas e imagens rodeiam permanentemente
o homem e, esse aluno, mais do que outro qualquer deve ter a oportunidade de
integrar-se ao “mundo” dos objetos, a fim de capacitar-se para fazer
associações, transferências, adquirindo mecanismos interpretativos e formadores
de conceitos e imagens mentais. CANZIANI (1985, p. 12) ressalta bem essa
característica da integração: “A pessoa portadora de deficiência deve receber
uma educação que lhe permita adaptar-se ao ambiente que a rodeia e também
encontrar o caminho e os meios que lhe permitam adaptar-se às situações
futuras”.
Durante séculos, a Geometria foi
ensinada na sua forma dedutiva. A partir da metade do século passado, porém, o
chamado Movimento da Matemática Moderna levou os matemáticos a desprezarem a
abrangência conceitual e filosófica da Geometria Euclidiana, reduzindo-a a um
exemplo de aplicação da Teoria dos Conjuntos e da Álgebra Vetorial. Desta forma
a geometria foi praticamente excluída dos programas escolares e também dos
cursos de formação de professores do ensino fundamental e médio, com consequências que se fazem sentir até hoje.
A partir dos anos setenta,
iniciou-se em todo mundo, um movimento em favor do resgate do ensino da
Geometria, visando ampliar sua participação na formação integral do educando.
Dentro desse contexto, o ensino
de Geometria no Brasil, sofreu e vem sofrendo profundas modificações tentando,
na medida do possível, aproximar cada vez mais os conteúdos a situações do
cotidiano do aluno, afinal vivemos num mundo repleto de formas geométricas.
Seja na escola, na rua, na casa,
a geometria está constantemente presente. Para os alunos deficientes visuais a
situação não é diferente, a perda da visão não os limita de sentir e presenciar
as formas geométricas que os cercam, pois, a partir do toque, esses alunos
podem “visualizar” toda a beleza do mundo geométrico em sua volta. O que
parecia então vazio e sem forma, com um simples toque ganha forma e vida na
mente desses alunos possibilitando-os, assim, acompanhar os conteúdos.
Mas, apesar dos esforços de
pesquisadores da educação matemática em sistematizar o ensino de Geometria, o
grande problema da não aprendizagem da disciplina pelos alunos é o fato dos
professores de Matemática, em sua maioria, não conhecerem bem a Geometria e por
esta razão acabam seguindo demasiadamente o livro didático, quase sempre,
preocupando-se mais com a técnica que com o despertar da percepção geométrica. Os
estudos de LORENZATO (1993, p. 3) verificam que muitos professores não possuem
conhecimentos suficientes para ensiná-la.
Além desses problemas levantados,
o aluno portador de deficiência visual enfrenta mais um problema: professores
que se queixam não terem sido preparados para ensinar um aluno deficiente
visual, logo destinam maior parte de sua responsabilidade para o auxílio
técnico da sala de recursos. Deve-se considerar que o aluno com deficiência
visual acentuada ou de visão reduzida “é considerado normal no âmbito da
educação” (CARNEIRO, 1998, p. 127) e portanto mantêm suas faculdades cognitivas
inalteradas (a não ser que se trate de um caso com deficiência visual associado
a deficti cognitivo, por exemplo, o qual não será objeto de estudo desse trabalho).
Este aluno possui uma limitação que pode ser suprida explorando-se os outros
sentidos remanescentes.
“Apesar de possuir uma restrição
que impõem certos limites, o deficiente visual pode ter uma vida tão agitada
quanto a de um vidente, desde que haja cooperação entre os membros sociais.
Como qualquer outra pessoa, tem condições de estudar, trabalhar, namorar,
dentre tantas outras atividades que fazem parte da rotina diária. O que
muitas vezes falta são oportunidades para ele mostrar seu potencial. É comum,
quando as pessoas se deparam com um deficiente visual, o aparecimento de
sentimentos de compaixão e dó, como se ele fosse apenas um corpo vagando pelas
ruas e que, sem ajuda não consegue prosseguir. Muitas vezes ficam até
impressionadas quando o mesmo se destaca em atividades comumente
destinadas a videntes. Isso quando não é desprezado.” (FERRONATO, 2002, p.37).
ENSINO DE MATEMÁTICA E DEFICIÊNCIA VISUAL.
Como se ensina Matemática para um
deficiente visual? Foi a pergunta que me fiz quando convidado a ministrar aula
de Matemática para portadores de necessidades educacionais especiais. Essa
mesma pergunta é feita a mim, automaticamente, quando alguém sabe que lido com
o aluno deficiente visual.
A Matemática é estigmatizada como
um “bicho de sete cabeças” e a falta de recursos metodológicos colabora para
aumentar as dificuldades no processo ensino – aprendizagem do deficiente
visual. É constante ouvir também perguntas como: “Como resolvem eles as
questões?” ou “Como entendem eles os problemas?”
Quando se fazem essas perguntas,
se esquecem que as faculdades cognitivas de um deficiente visual se mantêm
inalteradas. Não há dúvida de que o grau de dificuldade dos deficientes visuais
na disciplina Matemática aumenta quando não há recursos didáticos adequados à
sua especificidade. O aluno com baixa visão tem possibilidades de acompanhar a
resolução de um problema no quadro, mas o aluno cego não! Então é preciso, de
alguma forma, criar alternativas que minimizem as dificuldades que a
deficiência visual traz aos alunos.
O objetivo de estudo deste artigo
não pretende dar ênfase à deficiência do aluno, mas suas potencialidades que
devem ser estimuladas, para que haja um aprendizado efetivo. A relevância
existe porque se tem observado que alguns
professores de Matemática da rede regular de ensino, ainda não se
voltaram para a questão das especificidades do deficiente visual. Prova disso,
é a grande dificuldade que o aluno deficiente visual tem para aprender a
disciplina Matemática. Isso porque o professor de Matemática da sala regular de
ensino, por não estar integrado à proposta de inclusão, na maioria das vezes,
não busca meios para facilitar o processo ensino-aprendizagem.
Um exemplo clássico que comprova essa desconexão entre professor e aluno é o fato da maioria dos professores desconhecerem o Sistema Braille, algo indispensável para quem precisa atuar pedagogicamente com o deficiente visual. [...] Mas, se tem o professor da sala de recursos, para que o professor da sala de aula regular precisa conhecer o Sistema Braille? O educador Matemático precisa conhecer o Braille, porque o professor da sala de recursos quase sempre não tem o conhecimento matemático necessário para ensinar a disciplina, afinal, quase sempre ele não é professor de Matemática!
Então, é possível que a educação matemática ensinada na sala de recursos seja fragmentada, assim como a Matemática ensinada na sala regular para uma pessoa com deficiência visual, será também fragmentada se o professor não apresentar recursos metodológicos que possibilitem a compreensão dos conteúdos que serão ministrados. Por esta razão, o professor que atua com o deficiente visual, deve ter conhecimento da escrita de seu aluno, portador de necessidades educativas especiais.
Um exemplo clássico que comprova essa desconexão entre professor e aluno é o fato da maioria dos professores desconhecerem o Sistema Braille, algo indispensável para quem precisa atuar pedagogicamente com o deficiente visual. [...] Mas, se tem o professor da sala de recursos, para que o professor da sala de aula regular precisa conhecer o Sistema Braille? O educador Matemático precisa conhecer o Braille, porque o professor da sala de recursos quase sempre não tem o conhecimento matemático necessário para ensinar a disciplina, afinal, quase sempre ele não é professor de Matemática!
Então, é possível que a educação matemática ensinada na sala de recursos seja fragmentada, assim como a Matemática ensinada na sala regular para uma pessoa com deficiência visual, será também fragmentada se o professor não apresentar recursos metodológicos que possibilitem a compreensão dos conteúdos que serão ministrados. Por esta razão, o professor que atua com o deficiente visual, deve ter conhecimento da escrita de seu aluno, portador de necessidades educativas especiais.
Ferronato, sobre a situação,
corrobora: “Quem usualmente conhece esse sistema é quem tem a necessidade
direta dele, ou seja, alunos cegos e professores “especialistas”. Os
professores das classes regulares dificilmente sabem como utilizá-lo, talvez
porque não vejam nele um instrumento de grande importância. Isso dificulta
muito o aprendizado do aluno cego, uma vez que ele não tem a possibilidade de
fazer anotações sem o seu código de escrita, depende sempre da sua boa memória
para poder abstrair o que está sendo passado. Também pode ocorrer de o
professor não entender o que ele escreveu, justamente por não conhecer o
Braille, e em consequência direta, possíveis dúvidas podem ficar sem resposta”
(FERRONATO, 2002, p. 42).
É sabido que o processo de
inclusão é, sem dúvida, um grande passo positivo, quanto à possibilidade de
socialização do indivíduo deficiente. No entanto, percebe-se ainda, que na
questão educacional, ela ainda caminha a passos lentos e curtos, pois
verifica-se nas classes regulares, professores mal ou não preparados para atuar
com o aluno com deficiência e observa-se também a falta de recursos didáticos
adequados e necessários em sala de aula normal que abriga esses alunos.
O Brasil cuida mal ou não cuida
do aluno portador de necessidades educacionais especiais, talvez porque não
tenha conseguido resolver questões mais gerais da Educação Básica. De um modo
geral, há um despreparo técnico dos profissionais que lidam com a educação do
portador de necessidades educacionais especiais. Evidencia-se demais a deficiência
dos alunos em detrimento das possibilidades de adequação dos meios de ensino e
avaliação desse educando.
Logo, trabalhar matemática com
alunos deficientes visuais parece ser uma tarefa não muito fácil. Isso porque
esses alunos precisam estar em contato direto com o que está sendo ensinado. Ou
seja, eles precisam literalmente “sentir” para poder fazer suas abstrações. Não
que os outros alunos não tenham essa necessidade, mas é que no caso dos
deficientes visuais, o concreto é um dos únicos meios possíveis de conhecimento
das coisas que os cercam. Desse modo, ao professor cabe a responsabilidade de
estar buscando estratégias concretas que possibilitem a compreensão de todos os
alunos.
A teoria construtivista de Jean
Piaget muito auxilia o docente nessa tarefa, uma vez que defende que o
desenvolvimento cognitivo é facilitado quando se trabalha concretamente. Para
ele o conhecimento parte de ações sobre objetos concretos, repousando no tripé
sujeito (quem aprende), objeto (o que se aprende) e social (o outro ou o meio).
O aluno, sob essa perspectiva,
não é passivo e sim sujeito ativo de sua aprendizagem, pois agindo sobre o
objeto tem a possibilidade de construir o conhecimento e não simplesmente
“absorvê-lo”. GROSSI (1993) citado por FAINGUELERNT (1994, p. 24) coloca que “o
construtivismo inaugura a valorização do agir de quem aprende como elemento
central para se compreender algo”. E valorizar a ação do educando é
fundamental, principalmente em se tratando de alunos deficientes visuais que,
muitas vezes segregados pela sociedade, possuem autoestima baixa e não
acreditam, de certa forma, em suas potencialidades.
Entretanto, MACEDO (1994) faz um
alerta quando afirma que a essência do método desenvolvido por Piaget só tem
sentido quando a ação do sujeito é espontânea, ou seja, o educando deve ser
instigado a agir sobre o concreto, sem interferências externas, a fim de
assimilar e acomodar às estruturas preexistentes em sua mente, os novos
conceitos e habilidades agora requeridos. O aluno é agente da construção do seu
conhecimento pelas conexões que estabelece em seu sistema cognitivo num
contexto de resolução de problemas. Isso porque todos os alunos, independente
das diferenças físicas ou culturais, possuem uma experiência anterior, uns mais
que outros, que não pode ser desprezada e essa experiência auxilia muito na
aprendizagem.
São poucas as alternativas que os
docentes têm para trabalhar conceitos matemáticos de forma concreta. Porém, a
partir de estratégias simples criadas pelo próprio educador, os alunos podem
ser estimulados a estarem buscando novas aprendizagens. São possibilidades que
estão emergindo com maior intensidade nas últimas décadas, decorrentes
principalmente da proposta inclusiva, que prima por salas heterogêneas o que,
de certa forma, estimula o professor a estar buscando alternativas que
possibilitem a aprendizagem de todos os alunos e não apenas de parte deles.
O professor não precisa mudar
seus procedimentos quando tem um aluno deficiente visual em sua sala de aula,
mas apenas intensificar o uso de materiais concretos, para ajudar na abstração
dos conceitos. Ao criar recursos especiais para o aprendizado de alunos com
necessidades especiais, acaba beneficiando toda a classe, facilitando para
todos a compreensão do que está sendo transmitido.
No caso específico do ensino da
matemática para deficientes visuais, por enquanto, não se tem notícia de muitas
alternativas. Normalmente ela é transmitida tendo-se como recurso fundamental o
sorobã ou ábaco, instrumento usado tradicionalmente no Japão para fazer
cálculos matemáticos. No Brasil ele foi adaptado em 1949 para o uso de alunos
cegos, sendo que hoje é adotado em todo o país. Com ele é possível realizar
operações de adição, subtração, multiplicação, divisão, radicação e
potenciação com certa rapidez. É um objeto de baixo custo e grande
durabilidade.
Entretanto, vários conteúdos
matemáticos não são possíveis de serem explicados utilizando-se o sorobã.
Principalmente os que se referem à Álgebra e à Geometria, pois estes dois
blocos têm seus respaldos teóricos em situações visíveis, concretas. Trabalhar
Funções, Estatística ou Trigonometria, por exemplo, não é possível utilizando
esse recurso pedagógico, porque ele não possibilita a construção de gráficos ou
a visualização concreta das equações.
Dessa forma, esses conteúdos são,
na grande maioria das vezes, trabalhados superficialmente com alunos
deficientes visuais, isso quando não são substituídos por outros, com menor
carga de dificuldade.
Para que isso ocorra, as
experiências com materiais concretos podem e devem ser aproveitadas pelo
professor, que pode conseguir êxito levando em consideração o conhecimento das
crianças, fruto de seu meio. Quanto mais os educandos se deparam com situações
concretas de aprendizagem, independente de terem ou não restrição sensorial,
mais fácil conseguirão fazer suas abstrações.
Afirmamos isso tendo respaldo na
teoria construtivista de PIAGET (1986), que pesquisando durante anos como se
efetiva o desenvolvimento cognitivo nas crianças, chegou à conclusão de que
elas aprendem melhor a partir de situações concretas criadas pelo educador e
sem interferências externas. “O conhecimento (...) é o resultado das relações
que podem existir entre o homem e o meio” (ROSA, 1998), sendo facilitado quando
as mesmas são mediadas por instrumentos concretos. LEITE (1989), ao se referir
à teoria construtivista de Piaget, faz uma importante observação: “Agindo [a
criança] assimila novos conceitos e adquire novas habilidades, refaz conceitos
anteriormente adquiridos e refaz suas estruturas mentais (...). O refazer de
estruturas mentais torna possível a verdadeira aprendizagem”.
Sendo assim, a abstração dos
conceitos pode ser facilitada quando se trabalha com o concreto, com o
palpável. Com o auxílio do material e de forma independente, o educando pode
visualizar concretamente o que é proposto pelo professor, sem, no entanto,
ficar dependente do material. É um recurso que auxilia na abstração e, quando a
mesma se efetiva, torna-se dispensável.
“Assim que os conceitos que se
deseja construir estejam prontos, pode-se trabalhar (...) de forma abstrata,
sem a manutenção de uma relação direta com o aparelho. (...) O aparelho pode
deixar de existir materialmente em classe, mas ele continuará a existir sob a
forma de evocação, dentro da representação de cada sujeito que agiu sobre ele.”
(ROSA, 1998, p. 30).
Para o deficiente visual a
utilização de materiais concretos se torna imprescindível, haja vista que tem
no concreto, no palpável, seu ponto de apoio para as abstrações. Ele tem no
tato seu sentido mais precioso, pois é através da exploração tátil que lhe
chega a maior parte das informações. É através dela que ele tem a possibilidade
de discernir objetos e formar ideias. As mãos, dessa forma, têm um papel
fundamental, pois são elas que vão suprir, de certa maneira, a “inutilidade”
dos olhos.
Entretanto, o processo de
explorar e conhecer através das mãos é demorado e requer grande esforço do
deficiente visual. Ele precisa de situações adequadas sem que haja precipitação
nem impaciência.
Dessa forma o professor pode se
esforçar no sentido de trabalhar concretamente os conteúdos, para que os
resultados finais sejam maximizados. Trabalhar de forma concreta com
deficientes visuais implica materiais que eles possam tocar, pois é com as mãos
que eles têm a possibilidade de enxergar. Segue, então na próxima sessão,
algumas sugestões de atividades que podem facilitar o ensino de Geometria
em classes que abarcam a pessoa com deficiência visual assim como alunos
videntes.
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
Seguem-se situações que considero
úteis para a sala de aula que abriga o aluno deficiente visual. O ensino de
Geometria voltado ao aluno deficiente visual pode ser basicamente trabalhado a
partir de atividades como dobrar, recortar, moldar, deformar, decompor,
situações essas que permitem uma “visualização” tátil do material utilizado.
Atividade 1:
Composição e decomposição de figuras planas
Composição e decomposição de figuras planas
Material utilizado: de fácil
acesso e baixo custo, pode ser confeccionado em cartolina ou pode ser
utilizadas caixas de perfumes, remédios, creme dental, etc, pois permitem a
decomposição do sólido possibilitando a planificação do mesmo a partir do desmonte
das embalagens.
Atividades desenvolvidas:
- Pedir que o aluno identificasse as figuras planas presentes nas caixas desmontadas;
- Trabalhar os conceitos geométricos de forma sistematizada;
- Pedir ao aluno para compor a caixa;
- Pedir ao aluno que identifique através do toque as partes do sólido geométrico utilizado;
- O professor irá trabalhar os conteúdos geométricos de forma sistematizada;
- Possibilitar que o aluno estabeleça a diferença entre sólidos geométricos e figuras geométricas planas.
Essa atividade pode parecer
mero passatempo, porém é de fundamental importância para o aluno deficiente
visual para a construção de sua percepção geométrica.
Atividade 2:
Sugestões de como trabalhar a Geometria e gráficos através da
Tábua de Geoplano e do Multi plano.
Sugestões de como trabalhar a Geometria e gráficos através da
Tábua de Geoplano e do Multi plano.
Geoplano: É constituído por uma tábua
onde pinos desenham uma rede quadricular. Borrachas podem materializar o
contorno. Trata-se de um material aberto, que pode receber várias aplicações em
variados níveis de desenvolvimento dos alunos, desde os primeiros passos até o
fim do ensino básico.
Atividades desenvolvidas
- Identificação de direções (horizontal, vertical, diagonais);
- Identificação, classificação ou reprodução de polígonos;
- Construção de figuras semelhantes a outras já realizadas;
- Medição e comparação de áreas e perímetros;
- Conceito de ângulo (medição)
- Relações entre triângulos semelhantes
- Seno, cosseno tangente de um ângulo.
Para desenvolver o conteúdo de
Geometria pode-se utilizar elástico de qualquer espessura.
Devido a Tábua de Geoplano ser
constituída por vários pinos, ela permite que o deficiente visual perceba a
forma e a dimensão das figuras planas através do contorno do elástico,
facilitando a compreensão de áreas e figuras. Com a ajuda do professor o aluno
poderá saber o valor da base e da altura de um retângulo, por exemplo, a partir
da determinação do espaçamento entre os pinos.
Multi plano:
Trata-se de um instrumento
concreto que possibilita ao deficiente visual uma aproximação maior com a
Matemática. É uma placa com furos equidistante, dispostos em linhas e colunas
perpendiculares. "Com o Multi plano o deficiente visual consegue fazer
gráficos, figuras geométricas e cálculos avançados, além de entender melhor
volume e distância." (FERRONATO, 2002, p. 25). Nos furos são colocados
pinos que, contornados por elásticos, desenharão:
Figuras
Planas
Gráficos
Assim como o Geoplano, ele permite que o aluno visualize através do tato.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
É importante para o professor que
queira melhorar a qualidade do ensino, reconhecer o aluno deficiente visual
como um indivíduo dotado de limitações e potencialidades como os demais.
Assim, ao professor da classe
comum cabe, quando se deparar com um aluno deficiente visual, aproveitar ao
máximo os outros sentidos dele. Pode falar em voz alta o que está sendo escrito
no quadro negro, facilitando a apreensão por parte deste aluno do que está
sendo tratado. Além do mais, pode ser cauteloso ao se comunicar com a classe,
evitando fazer comparações, para que não provoque sentimentos de inferioridade.
Na medida do possível, pode passar a esse aluno a mesma lição dada aos outros,
para que a faça na classe ou em casa, a fim de valorizar o deficiente visual
ante aos demais, fazendo-o perceber que é capaz, contribuindo para melhorar sua autoestima. Além disso, quanto mais os educandos se deparam com situações
concretas de aprendizagem, independente de terem ou não restrição sensorial,
mais fácil conseguirão fazer suas abstrações.
Portanto, a utilização de
recursos metodológicos adequados às necessidades do aluno deficiente visual
implica em melhor rendimento no aprendizado, ou seja, os alunos demonstram
compreender melhor a matemática a partir da “sensação tátil”. Portanto, a
metodologia proposta pode ser utilizada nas salas de aula como alternativa para
alcançar melhores resultados no processo de ensino/aprendizagem de Geometria
para alunos deficientes visuais e também para os alunos videntes.
É importante que o professor de
Matemática se conscientize da relevância do seu papel no processo educacional
do aluno cego e/ou com baixa visão. Que ele busque uma preparação mais
adequada, inicialmente, aprendendo o sistema Braille e em seguida procurando
alternativas metodológicas que satisfaçam as necessidades exigidas pelo aluno.
v Silvio Santiago Vieira - Mestrando do Programa
de Pós Graduação em Educação em Ciências e Matemáticas – PPGECM – do Núcleo
Pedagógico de Apoio ao Desenvolvimento Científico – NPADC – da Universidade
Federal do Pará – UFPA.
v Francisco Hermes Santos da Silva - Dr. em
Educação Matemática e professor do PPGECM – NPADC – UFPA.
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